Por Fabio Picarelli
Sai um diretor falastrão que tentava defender seus aliados. Entra um discreto, com perfil mais técnico e que tentará manter a isonomia das investigações. Foi assim que três policiais com trânsito na cúpula da Polícia Federal analisaram a troca de comando na corporação.
A demissão de Fernando Segovia na direção-geral da PF e sua substituição por Rogério Galloro foram o primeiro ato de Raul Jungmann como novo ministro da Segurança Pública.
A troca do homem que chegou ao posto máximo da PF pelas mãos de dois figurões do MDB e caiu justamente por minimizar uma investigação policial em andamento contra Michel Temer é vista em Brasília como uma tentativa do presidente de passar a imagem de que não quer interferir em nenhuma apuração, nem as que ocorrem contra ele mesmo.
Expectativa
No meio policial há a expectativa de que o novo diretor não interfira nas investigações em andamento, principalmente as relacionadas à corrupção, e mantenha a sua habitual discrição. Neste ano, as apurações policiais têm um fator a mais: o eleitoral. Ninguém as elimina como um peso preponderante na trajetória dos candidatos até outubro. Quase todos os partidos têm figurões investigados e, conforme for o andamento de cada investigação, os rumos dos políticos podem ser selados. Só no STF são 150 inquéritos relacionados à Operação Lava Jato nos quais autoridades com foro privilegiado são alvo.
Na PF estão, por exemplo, a investigação contra o presidente Temer na qual ele é suspeito do crime de corrupção no caso dos portos; a apuração de pagamento de propina para o ex-governador e plano B dos petistas, Jacques Wagner, na construção da Arena da Fonte Nova, na Bahia; além da formação de cartel por empresas que agiram nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra, ambos do PSDB, em São Paulo. Além disso, a PF pode ser requisitada para agir em processos que já estão em estágios mais avançados no Judiciário, como os que envolvem o ex-presidente Lula ou o que apura a ligação do senador Aécio Neves, ex-presidente do PSDB, com corruptores da empresa JBS. Segovia estava no cargo havia pouco mais de três meses. O diretor morreu pela boca, sem dúvida.